aLTERAÇÕES COGNITIVAS APÓS A COVID-19

Nos últimos 4 anos tenho me dedicado a estudar as alterações cognitivas e comportamentais que acontecem nos pacientes após a infecção aguda pela COVID-19.

Este é o tema do meu Doutorado pela Universidade de São Paulo (USP) e eu tive a grande alegria de ter meu trabalho aceito para apresentação em um Congresso Internacional sobre NeuroCOVID em Nápoles, na Itália, agora em novembro de 2023.

Não há, ainda, consenso na literatura em relação a nomenclatura a ser usava na avaliação de pacientes com sintomas neurológicos após a fase aguda da COVID-19, então, optei por usar COVID longa. Essa condição foi definida pela Organização Mundial da Saúde como a continuação ou o desenvolvimento de novos sintomas 3 meses após a infecção inicial pelo SARS-CoV-2, com estes sintomas durando por pelo menos 2 meses, sem nenhuma outra explicação.

A COVID longa é uma doença complexa, multifatorial e desafiadora e a “névoa cerebral” relacionada à COVID-19 é difícil de diagnosticar, pois a maioria dos pacientes não foi previamente acompanhada por neurologistas e o estado basal do paciente não é conhecido. Essa “névoa cerebral” é mais provável se os sintomas respiratórios ocorrerem no início da infecção e a hipóxia cerebral fizer parte da fisiopatologia.

Das alterações neurológicas causadas pela COVID-19, um dos destaques foi o comprometimento das funções cognitivas, objeto do meu estudo. Estudos já publicados na literatura também fizeram essa análise dos domínios cognitivos para melhor entendimento da COVID longa. Revisões sistemáticas evidenciaram que os mais afetados foram as funções executivas, velocidade de processamento, memória e atenção.

Há, também, alta prevalência de sintomas psiquiátricos, como ansiedade e depressão, após a COVID-19. Um estudo, inclusive, observou que a disfunção cognitiva foi um mediador significativo da relação entre COVID-19 e sintomas psiquiátricos, sendo que estes tendem a diminuir ao longo do tempo ou voltar ao normal, apesar dos riscos aumentados de comprometimento cognitivo – “névoa cerebral”, que persistiram por muito tempo, pelo menos 2 anos.

Cada vez mais está sendo possível entender mais e melhor essa doença. O estudo continua e espero contribuir para a melhora clínica dos pacientes.